Rafuxo

Alexis Kellermann
4 min readOct 9, 2019

oi meu amigo, to a um tempo querendo um tempo pra falar contigo, desde tudo que aconteceu. tentei algumas vezes, mas ainda não deu. quero te falar, mas não sei exatamente o que te dizer. tá tudo muito confuso, tá difícil de entender. tentei falar contigo antes, mas não queria te xingar. sim, fiquei brabo, tive rompantes, fiquei com raiva, tive que gritar. fiquei de cara pela tua ousadia, por tu testar tanto os teus limites, por sempre rir na cara do perigo. mas tive empatia e entendi que isso sempre fez parte de ti, portanto faz sentido que tu tenha partido conforme tu tinha vivido. então não posso (não quero, não vou) ficar brabo contigo. mas então, com quem? pra onde direcionar? quem é que eu posso culpar? fiquei com raiva dos outros, fiquei com raiva de mim, fiquei com raiva do mar. e acho que foi nesse momento, em que eu ainda não queria conversar contigo, que tu falou pra mim. “chê, não fica assim. de que que adianta todo esse sentimento ruim? eu sei que tá uma bagunça o teu peito, que tu ainda vai processar, no teu tempo e do teu jeito, mas que, no fim, não é esse o gosto que vai ficar de mim.” simples assim. eu tava chorando e soluçando, esperneando e negando, e tu me encheu de carinho. quis te agradecer na hora, mas ainda não era agora, pois estávamos entre nossos amigos, então guardei pra conversar quando estivéssemos sozinhos. ontem tentei falar contigo, mas acho que a linha tava congestionada. era tanta foto, tanta lembrança, tanta risada! não tem como não recordar do teu jeito criança, da curiosidade que não cansa, do apetite que tudo alcança, do humor contagiante, da alegria ambulante, do amor acolhedor, sincero, pulsante. Rafuxo, tu é cativante. queria ter te dito isso ontem, até comecei a falar, mas não consegui ir adiante. fiquei no playground das lembranças, brincante. dormi pensando em ti, acordei vendo teu semblante. hoje fui na terapia, foi bem desafiante. como explicar pra alguém que não te conheceu o quanto tu é importante? que biografia, estória, conto ou memória poderia fazer jus à tua trajetória? as lágrimas contaram um pouco da história, os sorrisos ajudaram na oratória. mesmo assim ficou pequeninho perto do que tu é pra nós, perto do que tu é pra mim. no meu coração tu fez um ninho, no meu amor tu tem um lar, maninho. voa, passarinho, sempre que quiser vem me visitar. taí, acho que chegou a hora de te falar. dizer que tenho orgulho de ser teu amigo, que te amo e te admiro, que agradeço por tu ter compartilhado comigo o brilho da tua luz, a cor unica do teu ser. agradeço por tu ser instrutor, como tá escrito na regata amarela em que é tão fácil eu te ver. agradeço por ser tão inspirador, quero ser que nem tu quando crescer. agradeço por tu ser professor, e por sempre me ensinar sobre o amar, sobre o buscar, sobre o realizar, sobre o viver. como é bonito aprender contigo, meu querido! os jeitos que tu explica, o modo como se comunica, como tu divide, como multiplica, tudo com uma alegria que da gosto de se ver. gosto, sabor. acho que essas palavras tem tudo a ver com tua essência. provar faz parte da tua ciência, experimentar sempre te impulsionou, te motivou, te moveu. mas nesse caso, o gosto a que me refiro é o teu. porque eu percebi que tu é como um tempero raro, único, exótico, marcante. uma pitada de rafa, e tudo fica mais interessante. qualquer um que experimente já quer provar novamente, desejando ter em todas as refeições. tua presença marca, cativa, conquista e tempera os corações. e é por isso que vi, provei e senti, no meio de tanta dor, um banquete de amor, Rafuxo. vindo de toda essa gente que percebeu que ter te conhecido foi sorte, foi privilégio, foi luxo. que saudade forte desse gaúcho! a vida tem caminhos e mistérios muito além do meu entendimento, mas tem algo que eu sei, que não vem do conhecimento, que me ensinou meu sentimento: pra onde quer que tu tenhas ido, tenho certeza que o lugar ficou melhor com tua chegada. quase vejo no teu olho o brilho, a pergunta no cenho franzido, quase ouço na tua voz a gargalhada. dentre tanto que gostaria de falar e ouvir, acho que vou me resumir, pois minha visão já ta molhada. fica em paz, queridão. que privilégio te ter como irmão. te imagino te espraiando em outra dimensão, preparando um chimarrão, contagiando e alegrando outro rincão, ao mesmo tempo que te sinto e te levo no meu peito, no meu jeito, na risada e no coração!

Rafael Calixto Bortolin, bem quisto do Bom Fim à Byron Bay e Medellín, parceiro pro tendel, trampolim, cordel ou pebolim, pra sempre te lembrarei assim, sabor misto de mel e alecrim, escarcéu e tamborim, pimenteira e gergelim, gengibre e jasmim. Amor ser fim. ❤

Te amo, mano.

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Alexis Kellermann

Palavras são como peças de um quebra cabeça: prefiro bagunça-las.